domingo, 11 de setembro de 2011

Era uma vez uma máquina... Parte 6

Ola amigo leitor.
Sei que você está aí.
O meu toque de suspense deu certo, assim espero, e você está aqui caçando essa continuação barata.
Vamos continuar?

Estamos no ano de 1962.
Minha vida não mudou muito de lá pra cá.
As mortes ficaram menos frequentes.
As pessoas aprenderam que não podem atravessar o Muro.
É assim que se doutrina cães.
Na base da porrada.

Em casa, as coisas mudaram um pouco.
Quase não via mais minha mãe.
Não que eu a visse muito antes, mas agora era diferente.
Ela chega em casa no horário normal do trabalho.
07:00 p.m
Toma um banho.
Se arruma.
Pega uma bolsa que fica trancada dentro do seu armário.
E sai de casa.
E só volta de madrugada.
Nisso, eu já estou mais bebado que é capaz de eu tentar dançar tango com o vento.

Maio de 1962.
Um dia qualquer.
De uma semana qualquer.
Eu só lembro do mês.
Minha mãe saiu pra trabalhar e eu também.
Desde que comecei a trabalhar no mercado, eu consegui uma promoção.
Saí de caixa para gerente dos caras do caixa.
Nada de muito diferente.

Foi um dia normal.
Um cliente chato aqui.
Uma briga com um dos operadores de caixa ali.
Normal.
Quando chego em casa, ouço o barulho.
Talvez, aquele barulho que mudaria minha vida.
O toque de um telefone.

Estranho.
Quase ninguém liga pra cá.
Eu não tenho amigos.
Minha mãe também não.
Uma vez ou outra alguma tia liga pra cá.
Pra saber se pelo menos estamos vivos.

-Alo? - Interjeição. Uma forma de saudação. A quem? Eu não sei.
-Rudloff? Terry Rudloff? - uma voz metálica, uns barulhos de fundo.
-Sim, sou eu. - nunca havia recebido uma ligação pra mim.
-Aqui é do Hospital Público. Acabamos de receber sua mãe aqui com um traumatisco craniano. Pegamos ela tentando atravessar o Muro de Berlim para a Alemanha Ocidental. Ela e mais 2 fugitivos.
Seu tio Peter, foi baleado tentando ajudar a sua mãe a atravessar pro lado da Alemanha Ocidental. Sua mãe se desequilibrou com o susto do tiro e caiu.
Ela está hospitalizada, mas estável. Assim que receber alta, será encaminhada para prisão e aguardará julgamento. - disse aquela voz metálica, tudo de uma só vez.

Gelo.
Frio.
Congelado.
Minha mãe saiu.
Saiu pra sumir.
E me deixar.
Meu tio morreu.
Eu nem sabia que tinha um tio.
Minha mãe será presa.
Provavelmente condenada.
Nunca vi ninguém sair impune por tentar atravessar o Muro.

-Terry? Você está aí? Terry? Tutututu


Ouço a voz metálica de longe, falando comigo e depois desligando.
Coloco o telefone no gancho e apago.
Acordo, o céu já está escuro e o telefone não para de tocar.
Eu não quero atende-lo, tiro ele do gancho e escuto.

A voz metálica me diz que minha mãe teve alta.
Está na Prisão Alemã Estadual.
Aguardando julgamento.
Mas já me avisam que será difícil ela sair de lá.
Eu agradeci o contato.
Desejei à voz metálica uma boa noite.
E desliguei.
De novo.

Levantei.
Tomei um banho.
E saí.
A rua agora era minha família.
E a bebida meus irmãos.
Aqueles que eu perdi em guerra.

Aqui começa a história propriamente dita.
Vocês conhecerão agora, meu caminho até o meu futuro.
Até onde estou hoje.

A partir de agora, vocês comecarão a entender, como eu vim parar na frente dessa máquina.
Escrevendo sobre esse passado.

Até breve, meu caro caríssimo.

2 comentários:

  1. Te enchi tanto a paciência que você deu continuidade pro conto *--* [Deixa eu acreditar que foi por minha causa (y) haha]

    "A partir de agora, vocês começarão a entender, como eu vim parar na frente dessa máquina.
    Escrevendo sobre esse passado.

    Até breve, meu caro caríssimo. "

    FRIO NA BARRIGA! Esperei taaaaanto por isso *-* É muito mistério e suspense pra uma Luiza só. Mas eu amo isso. Teu jeito tão particular de escrever.
    E esse conto ta foda, sombrio, sinistro!
    Saudades desse "Meu caro caríssimo"! Já disse milhões de vezes que é um dos teus pontos inconfundíveis de escrita que eu mais gosto.

    Sério Rick, tu te talento demais! OLHA ISSO! Prender um leitor assim por seis partes é coisa de quem manja...E outra, ainda deixa a gente com vontade de mais! Querendo que o conto não acabe porque parece haver muita estória pra contar.

    Na boa que eu NUNCA vou deixar você parar de escrever [como se a escolha fosse minha!] Hahaha'

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  2. Lhe disse, que dava para criar muito nisso, é como se a historia estivesse apenas começando, com um suspense que te obriga a ler a próxima pagina, sem duvida o que existe de melhor no blog. O ápice da tua capacidade de escrever, incrível.

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