sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Era uma vez uma máquina... Parte 5

Eu sou um cara esquecido.
Entendam.
Eu sempre me perco em devaneios enquanto eu estou sentado pensado.
Por isso eu escrevo estas linhas tortas.
Para me lembrar.
Lembrar do meu passado.
Pra poder saber o que acontece em meu presente.
E tentar descobrir o que acontecerá no meu futuro.

Bom, já que eu acabei de jogar meus pensamentos lá longe, vamos voltar à minha história.
Eu continuo sentado aqui na frente dessa máquina de escrever antiga, relembrando coisas que aconteceram.
Onde eu parei?
Pois bem, lembrei.
E como pude esquecer?

Mark foi embora.
Me deixando aqui.
Terminei o Ensino Médio apenas com notas regulares.
Ainda não havia beijado.
E não me importava com isso.

Becas, alguns sorrisos amarelos.
Flashs.
Canudos.
"Pegue o canudo e enfie em seu cú querido diretor"
Foi um pensamento que me veio a mente, mas eu não verbalizei.
Covarde demais.
Desci do palco.
E voltei pra casa.
A volta para casa parecia demorar uma eternidade.
Eu acho que nunca manquei tanto em minha vida.
Mais um período havia acabado.

-Mãe? - pergunto eu assim que entro em casa.
-Oi Rudloff, parabéns. - disse ela sem nem virar pra mim.
-Terminei o colégio. - minha voz sai meio insegura, eu ainda estou plantado na porta.
-E daí? - responde ela mexendo em algo nas gavetas da cozinha.
-E agora? O que eu faço? - "Se mexa criatura! Vá até ela! Abrace-a! Faça qualquer coisa seu aleijado!" essa é a minha mente gritando comigo, mas eu não a obedeço.
-Agora você faz o que você quiser meu filho. A vida agora é tua. Se vira. - ela diz, saindo de casa e indo trabalhar.

E por lá eu fico.
Plantado.
Esperando o dia acabar.
Vejo o Sol se por pela janela da cozinha.

Isso tudo foi em 1958.
Nossas vidas iriam mudar em alguns anos.
Minha mãe começou a se agitar mais.
Ela saia no meio da noite, mas eu não me importava.
Não nos falávamos mais.
Eu consegui um emprego.
Um emprego medíocre, para alguém medíocre.
Caixa de mercado.
Me dava uns trocados para a bebida.
Eu havia adquirido o gosto por elas.
Havia conhecido uns caras também.
Amigos de bar.

Os anos passam.
Minha vida não passa.
Não muda.
'59 veio e foi embora.

Anos 60.
Começamos a ouvir algo sobre Divisão Alemã.
Não que nossas vidas já não fossem divididas.
A Alemanha que eu conheci quando eu vim ao mundo, há muito já havia sumido.
Oriental e Ocidental.
Uma ainda controlada por Russos, outra controlada pelos Americanos.
Mas ainda havia algumas brigas.
Ouviamos nos rádios, liamos nos jornais, sobre brigas.

'61.
Explosão na Alemanha.
Criam o Muro de Berlim.
Alemanha fisicamente dividida.
Um muro no meio do nosso país.
Dividindo sociedades, culturas e, o mais importante, famílias.
Lemos em jornais.
Tios, primos, filhos tentando atravessar a fronteira e morrendo.
Os soldados que ficam de patrulha não dão trégua.
Mark deve estar por lá.
Vestido de verde.
Caçando familiares.
Brincando de tiro ao alvo.

É meu caro caríssimo.
Esses foram meus anos.
Calma.
Ainda contarei mais.
Você sabe que eu gosto de continuações.
Gosto de contar as coisas em partes.
Posso deixar algo no ar?
Você me permite uma pitada de suspense?
Então tá bom.
Na próxima página desse conto de tortas linhas, você lerá algo.
Algo sobre uma voz metálica.
E suspirará.
Tchau caro caríssimo.
Nós ainda iremos nos falar.

2 comentários:

  1. Aí sim, Hyde! Tá ficando foda, sombrio, bom de ler.
    O conto flui bem demais!

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  2. Ficou ótimo, e tem muita historia envolvida, e suspense, prende a atenção e se desenrola de uma boa forma, você pode ir muito longe com esse conto. Espero que tenhamos muitas partes.

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