quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Era uma vez uma máquina... Parte 4

Onde paramos?
É mesmo. Cursando Ensino médio.
Isso parece descrição de Currículo.

Mark ainda andava comigo.
Ou pelo menos me acompanhava na minha mancadas.
Entramos no famigerado 3º ano.
Último ano nessa escola.

Mark ainda estava comigo.
Fiel e companheiro amigo.
Não comentei sobre o segundo ano pois nele, não houve muitas mudanças em minha vida.
Continuei manco.
Continuei com polio.
E continuei sozinho.

A falta de cores e a falta de coisas continuou a mesma.
A mesma apatia.
A mesma falta.
Falta.

Mark andava comigo.
Pelo pátio da escola.
Pelos corredores das salas de aula.
Pelo caminho de casa.

Mark andava comigo.
Sempre.
Até o dia que nos pararam na rua.
Mark foi levado.
Pelos mesmos homens que levaram meu pai.
Os homens de verde.
Tentei correr, mas não havia forças em minhas pernas.
Voltei para casa.
E esperei.
Esperei.

A dor da espera era absurda.
Mas Mark voltou.
Vestindo o verder.Aquele verde musgo que eu vi levando meu pai embora.
Mas sem a faixa.
O Nazismo havia acabado, mas a Alemanha precisava de soldados.
E Mark era um cara marcado.
Igual a mim.
Filho de ex-combatente.
Se eu não tivesse polio e não mancasse, pode ser que eles tivesse me escolhido também.
Mas escolheram Mark.
E ele andou.

Andou na rua.
Andou pro carro.
Andou para longe.

Essa foi uma das coisas mais marcantes no meu ensino médio.
Mark.
Meu único amigo, ter sumido, uniformizado, com cara de estátua e deixando a mãe e seu amigo para trás.
Assim como seu pai fez.
Como o meu fez.
Como muitos pais fizeram na Grande Guerra.

Você pergunta pela minha mãe.
Ela continuou na mesma.
E como nessa parte eu falo sobre continuações, deixa eu explicar a continuação da minha mãe.

Minha mãe continuou, ou melhor, tentando viver.
Não saia de casa, a não ser que fosse pra ir trabalhar.
Não saia da cama, a não ser que fosse pra ir trabalhar.
Não comia, a não que fosse pra poder parar em pé. Adivinha para que? Pra poder ir trabalhar.
Minha mãe entrou num círculo vicioso.
O círculo vicioso do coração, ou da falta dele.
Sem o coração, minha mãe entrou no automático.
Acordar, comer, trabalhar, comer, dormir.
Acordar, comer, trabalhar, comer, dormir.

E eu?
Eu só fui crescendo e tantando andar.
Andar para longe.
Para longe daquele bairro.
Para longe daquela cidade.
Para longe dos homens de verde e da sombra vermelha.

2 comentários:

  1. Muito bom, eu falei que tu tinha que continuar mano, estava maravilhoso, não podia ser abandonado, ansioso demais para conhecer o decorrer de toda essa historia, tenho certeza que tu consegue dar um andamento contundente para o conto. Parabéns.

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  2. Bonito demais, Hyde!
    Sou muito fã dos seus textos também!

    Essa série "era uma vez uma máquina" me cativa demais. Acompanho ela e não consigo acreditar que tu queria abandonar!

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