quinta-feira, 26 de maio de 2011

Era uma vez uma máquina... Parte 2

Eu vi toda a Guerra acabar.
Vi a Alemanha perder.
Vi Hittler cair.
Vi a Rússia acabar com um dos maiores Ditadores que se têm notícia.
Mas vi, também, a Economia alemã subir.
Isso tudo, reflexo de uma Guerra.

Já estava com meus 10 anos.
4ª série.
Os Aliados haviam vencido a guerra.
Hittler morreu.
E fim de papo.

Escola.
4ª série como eu já havia dito.
Professora rígida.
Com um pau na mão e um óculos que caia do nariz.
Gorda, velha e enrrugada.
Marcas de preocupação na testa.
Aula de Geometria talvez?
Não sei.
Nunca prestei muita atenção na escola.

Uma lembrança:

Uma cozinha, pequena.
Branca. O jogo de cadeiras combinando com os armários.
A toalha de mesa com desenhos de frutas.
- Rolf! Você não pode! Seu filho acabou de nascer! - Anne dizia, com lágrimas nos olhos.
- Anne, entenda, não é questão de eu querer, eu tenho que fazer! - dizia meu pai. A abraçando forte.

Meu pai se foi. Com uma pequena mala na mão e uma família nas costas.

Meses depois, um carro negro.
A notícia.
Meu pai estava morto.
Ficou preso em uma das cercas de arame farpado e foi fuzilado para morrer mais rápido.
Fuzil amigo.
O golpe de misericórdia.
Pelo menos não sofreu.

Isso tudo foi o que minha mãe me disse.
Como já foi dito, eu era bem novo na época.
Eu só lembro da toalha com desenhos de frutas.

Volto a mente para minha sala de aula.
A professora gorda e enrrugada já saiu.
Não ouvi nem a sirene tocar.
Levanto da mesa e saio.
Não tenho amigos para compartilhar o lanche.
Não tenho amigos para brincar no intervalo.
Não tenho ninguém.

Vejo as garotas no intervalo.
Elas não me interessam.
De verdade.
Nem elas, nem ninguém.

- Hey Rudloff! Venha cá!

Alguém me chama. Viro apenas por que é um movimento automático.
Ninguém nunca me chama pelo nome.
É sempre por esse sobrenome, que para mim, não vale de nada.
Era o sobrenome do meu pai.
Eu não tive um pai.
A qual nome eu honrarei?
Olho para trás e é aquele bando de garotos e garotas da minha sala.
Me chamam para entrar na roda deles.
Ali, eles parecem felizes, alegres.

Claro.
Eles não passaram o que eu passei.
Eles não perderam o pai com menos de um ano.
Não viram sua mãe se afundar num sofá.
Não tiveram que crescer rapidamente pra poder dar forças para sua mãe.
Sua mãe que tinha que sair de casa pra trabalhar.
Recebia a pensão de viúva de ex-combatente.
Mas isso não ajudava em nada.
Ela tinha uma criança quase recém-nascida e uma casa para cuidar.

Claro, todos tiveram suas perdas.
Mas eu não sei.
Acho que sou um pouco anti-social mesmo.
Vejo as coisas acontecerem de longe.
Maioria dos meus colegas de sala já havia, pelo menos, dado um beijo em alguma garota.
Eu não me importava com isso.
Não me importava com nada.

É.
Agora vocês começarão a entender como eu vim parar aqui.
Nessa mesa com essa máquina de datilografar.
Com essa cara cansada e com essas rugas de estress que marcam meu rosto velho.

Nenhum comentário:

Postar um comentário